O mundo do franchising: desafios e oportunidades
Imagem: Divulgação
*Rodrigo
Casagrande e Helio Arthur Reis Irigaray
A excelência é totalmente
vinculada ao entusiasmo, nos disse Ralph Waldo Emerson. Se estiver infeliz no
seu trabalho, levando uma vida sem sabor, por que não ir em busca de
alternativas na esfera do empreendedorismo? O mundo do franchising oferece
oportunidades, tanto pela perspectiva do franqueado quanto do franqueador.
Nesse contexto, empreender no mundo das franquias pode ser a oportunidade de se
desvincular de organizações que geram “apequenamento¨ de espírito? A resposta é
SIM e NÃO.
O franchising costuma ser
definido como a concessão de parte do franqueador para o franqueado do direito
de explorar o seu conceito, marca e conhecimento acumulado, mediante
contraprestações financeiras, as quais podem vir sob a forma de taxa de
franquia, royalties ou mesmo com valores embutidos no fornecimento de
mercadorias. O processo de abertura de franquias exige muito planejamento e
paciência. Eventual comportamento apressado pode ser severamente punido.
As boas práticas e o bom
senso preconizam que antes de se tornar franqueadora uma empresa tenha operado
unidades próprias por pelo menos dois anos, como forma de atestar o sucesso da
operação. Ainda nesse contexto, é preciso ser criterioso na escolha dos candidatos a franqueados. Enquanto muitos
acham que o melhor franqueado é o investidor “endinheirado”, paradoxalmente os
franqueados que costumam obter sucesso são aqueles que empenham suas economias
no negócio e que colocarão a barriga no balcão.
Eis um negócio em que o
investidor precisará se fazer presente, muitas vezes assumindo uma chapa
quente. Franquias do setor de alimentação relatam sofrimentos com funcionários
que simplesmente desaparecem em um sábado de sol. Casualmente, uma parte da
equipe avisa que ficou doente. Quem assume as funções operacionais mais
basilares? Sim, o franqueado.
Conforme relatado por um
ex-franqueado, é possível se deparar com o insólito em frequência bem superior
a que se poderia imaginar: certo domingo, o empreendedor foi para casa, à
tarde, para descansar um pouco, quando se surpreendeu ao olhar na câmera
instalada no fast food que os seus
funcionários estavam fazendo uma guerra de queijo. E era o queijo mais caro!
Na perspectiva do
franqueador, também é requerido muito esforço e dedicação. O franqueador tem
que se sentir responsável pelo sucesso dos seus franqueados, o que pode gerar
algumas noites mal dormidas… Daniel Plá, no excelente livro ¨Tudo sobre
franchising¨ relata dificuldades enfrentadas pelos franqueadores, especialmente
no tocante à obtenção de disciplina do franqueado, que podem comprometer
padrões operacionais e gerar conflitos de difícil condução.
A gestão de eventuais
conflitos de interesses é delicada, dado que o franqueado é dono do negócio.
Nesse sentido, a gestão da relação é complexa e eventuais quebras de vínculo
envolvem cifras e questões legais complexas. Para os franqueados as
dificuldades se apresentam de outras maneiras, passando pela limitação de
iniciativas inovadoras e o desembolso pelo uso da marca e metodologia.
Já na ótica do franqueado,
o sistema pode ser muito oportuno na medida em que permite ter acesso a uma
marca já consolidada, recebe a transmissão de conhecimento tácito em explícito
por meio do know how que lhe é
transferido em treinamentos e manual de operações, tendo como consequência uma
diminuição dos riscos envolvidos na abertura de um negócio próprio.
Dados do SEBRAE sinalizam
que a montagem de um negócio próprio, fora do sistema de franchising, significa
riscos cinco vezes maiores. O franqueador ético tem a consciência sobre a sua
responsabilidade no sucesso do franqueado. Há sonhos envolvidos e muitas
pessoas investem as economias acumuladas em uma vida no negócio, por isso
procuram um franqueador que preste consultoria e que zele pela sustentabilidade
do negócio.
Os franqueados são
responsáveis pela preservação da identidade e reputação da franquia e isso
requer conformidade com normas, regras, leis, estatutos, regimentos e leis,
sejam elas emanadas internamente ou externamente à relação de franchising.
Nesse contexto, é possível inferir que a possibilidade de empreender no mundo
das franquias pode ser vista como uma mudança na maneira de viver, o que não
significa uma vida libertária.
Os franqueados precisam ter
disciplina para seguir as regras de um sistema preconcebido e a
responsabilidade para preservar a imagem da franqueadora, o que geralmente
significa respeito à conformidade, muita dedicação e ¨barriga no balcão”.
*Rodrigo
Casagrande é doutor em Administração e coordenador do Painel de Economia e
Tendências Empresariais do ISAE e Helio Arthur Reis Irigaray é doutor em
Administração e professor-adjunto da FGV-EBAPE.