O que nos espera à frente (em uma outra visão)
*Por Décio Pecin
Muitos estão debatendo como sairemos desse período
de reclusão das pessoas, ocasionado pelo Covid-19. Como sairemos do ponto
de vista de saúde, econômico e social. E é exatamente nesse terceiro
ponto que eu gostaria de desenrolar esse texto. Como sairemos?
É incontestável que aconteceu uma aceleração
digital nas vidas das pessoas nas últimas
semanas, e isso nos faz pensar se será mesmo um
caminho sem volta.
A digitalização dos negócios foi colocada em
prioridade na pauta das empresas. Em uma tentativa
de continuarem atendendo seus clientes, executivos de
diversas organizações passaram a dedicar 100% do tempo a esse tipo de
estratégia. Afinal de contas, como dar aulas de inglês de
forma não presencial? Como servir um almoço ou jantar sem que o
restaurante esteja aberto? Como vender ou atender os clientes de forma digital, já que praticamente todos
estão confinados dentro de casa?
Há quem diga que esse processo de digitalização
trará um impacto tão grande nos negócios que precisamos nos preparar para o que
nós mesmos estamos fazendo. Será que cada vez mais vamos nos servir com o
on-line e deixar que tudo venha até nós? Pode ser, caro amigo, mas meu
pensamento vai para um outro lado.
O que mais tenho recebido nas redes sociais são
brincadeiras se referindo a todo tipo inusitado da convivência caseira das
pessoas. De como inventar coisas para parecer que não estamos em casa ou
simplesmente para passar o tempo. As brincadeiras escondem profundos desejos.
Pois bem. Então, qual será o maior impacto ao
final disso? A aceleração da digitalização ou o despertar das
pessoas para um mundo mais humano, onde as relações
com as pessoas serão ainda mais valorizadas?
Em uma ponta estão aqueles que apostam que
nossas vidas serão ainda mais digitais, que vamos aprender a pensar
de maneira digital antes de tudo e que vamos viver a era dos cliques
e das relações on-line. Essa ponta acredita que a adaptação das
pessoas à era digital é um caminho sem volta.
Na outra ponta - e ainda não vi ninguém
nessa ponta além de mim - estão aqueles que pensam que vamos dar
valor a coisas que nem sequer achávamos importante, simplesmente porque
estávamos "voando no piloto automático". E esse é o perigo de nossas
vidas: fazer por fazer, ir por ir, falar por falar...
Não consigo afirmar onde vamos estar ao final dessa
fase, mas posso dizer que muita gente já deve estar sentindo falta de coisas
simples, de contato, de gente, até de alguma rotina.
Já fui obrigado a ficar recluso, confinado sem
poder sair de casa, por um bom tempo. Sabe como eu lidei com isso
depois que eu saí daquilo? Dando valor a coisas muito simples da vida,
coisas que tecnologia nenhuma substitui ou substituirá. Gestos, afetos,
cheiros, sensações, gente.
Que você tenha a inteligência de ter esse
equilíbrio. Se vamos todos ser mais digitais e digitalizados, sejamos mais
humanos por outro lado. Afinal de contas, as melhores
escolhas geralmente não estão em extremos ou radicalismos.
Eu não sei como sairemos, mas sei que só sairemos
se percebermos a necessidade de mudança de hábitos e conceitos dentro de nós
mesmos.
Boa escolha meu amigo, minha amiga.
*
Décio Pecin é presidente da rede de ensino de idiomas
CNA